NarrAções da ditadura: Por uma ecologia das memórias
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“De fato, os romances K., de Bernardo Kucinski, e Nâo falei, de Beatriz Bracher, oferecem extraordinários exemplos da complexidade e da estratificação com que o romance brasileiro recente encara a escrita dos traumas ligados à experiência ditatorial. São textos que através da ficção literária conseguem esquadrinhar profundamente os desafios da narração e do testemunho de traumas nunca totalmente resolvidos. Decidi trabalhar a partir da noção, nada unívoca, de literatura de testemunho, e acabei me dando conta da espessura testemunhal que os dois romances possuem: um teor testemunhal que se desprende da opção pela ficção, porque os dois trazem à tona esse potencial, que é próprio da arte, da poesia e da literatura, de transfigurar a realidade para a tornar mais real. Se refletirmos, como escolhi fazer, a partir da ideia de Shoshana Felman de uma literature of testimony, entendida como literatura da urgência, as duas obras nos respondem, e nos mostram um “fazer memória” que parte das urgências do presente, trabalhando sobre traumas do passado que se repercutem no nosso hoje, e colocando questões que clamam por serem resolvidas, escutadas, envolvendo a sociedade toda.”