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Foi com uma “evocativa rapsódia de autores das literaturas em português” por si “frequentados e amados” que António Lobo Antunes interveio na cerimónia de assinatura do protocolo entre o Camões, I.P. e a Universidade de Milão que apoia a criação neste estabelecimento de ensino público italiano de uma cátedra de estudos de língua e cultura portuguesa que o tem como patrono.

António Lobo Antunes, autor desde 1979 de uma rica e vastíssima obra que conta com mais de 30 romances e cinco volumes de crónicas, traduzida, lida e admirada em todo o mundo é um dos mais importantes escritores da contemporaneidade portuguesa. A sua escolha para patrono prende-se com o facto de ele ser um dos autores portugueses mais traduzidos em Itália e ter uma ligação a África, que é uma das linhas de investigação da cátedra. Publicou recentemente um novo romance, A última porta antes da noite.

A nova cátedra vem reforçar os estudos portugueses numa escola em que eles são uma licenciatura com 202 inscritos (2017/2018) e cinco docentes. Por razões históricas, a Itália concentra perto de um quarto das cátedras apoiadas pelo Camões, I.P. – 12 em 51. “A relação com a tradição nacional, a identidade cultural, cujo cúmplice até sentimental é inexoravelmente o mar, o longe, a distância, as memórias pessoais que cruzam as memórias mais recentes e traumáticas do país (guerra colonial, descolonização), a escrita como razão da existência, de toda uma existência” foram, segundo o professor universitário italiano Vincenzo Russo, “os temas tocados por António Lobo Antunes” na sua ‘aula magistral’, “que emocionaram a audiência toda” na Statale di Milano, como é mais conhecida a Universidade de Milão entre os seus docentes e alunos.

Vincenzo Russo, professor de língua e literaturas portuguesa e brasileira na Universidade de Milão desde 2009 e coordenador da sua Secção de Português, é o responsável da nova Cátedra António Lobo Antunes, que terá duas linhas de orientação – uma didática e outra científica e de difusão cultural –, cujas atividades serão divulgadas e promovidas atráves de um site específico, a funcionar a partir de 2019:

No dizer de Vincenzo Russo, a diretriz didática “será garantida pela difusão e pelo ensino da língua portuguesa nos cursos curriculares e extra-curriculares (o ensino básico do português para alunos do Programa Erasmus em outgoing) e pela atribuição de um curso de alta formação em história das ideias e da cultura portuguesa a um professor visitante de uma universidade ou centro de investigação portugueses ou internacional”.

A diretriz científica e de difusão cultural prevê “a organização de eventos (congressos, palestras de especialistas, lançamentos de livros, convite a escritores lusófonos) e de promoção editorial”.

Nesta última linha de orientação, a Cátedra António Lobo Antunes deverá funcionar “em parceria com a Cátedra Eduardo Lourenço da Universidade de Bolonha”, de que é responsável o lusitanista Roberto Vecchi, “para a constituição de uma coleção editorial, recentemente lançada pela Editora Meltemi de Milão, intitulada Pensiero Atlantico sobre o pensamento português e em português”. O volume de ensaios de Eduardo Lourenço Do colonialismo como nosso impensado será o primeiro título da coleção a ser lançado no primeiro trimestre de 2019.

Nas linhas de investigação, a cátedra debruçar-se-á sobre temas como Na órbita de António Lobo Antunes; Dimensões da língua portuguesa em Itália; Colonialismo e pós-colonialismos; Pensamento Atlântico e história das ideias; História da receção de autores portugueses em Itália, dedicando-se ainda à tradução de autores portugueses.

O protocolo de cooperação entre o Camões, I.P. e a Universidade de Milão foi assinado pelo Embaixador de Portugal em Roma, Francisco Ribeiro Telles, e pelo Reitor da Universidade de Milão, Elio Franzini.

Jornal de Letras
Encarte Camões
7 a 20 de novembro de 2018