MOARA – Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Letras, n. 59 (2021)
O irmão/pai de uma desaparecida política
Resumo
Os arquivos reunidos pela Comissão Nacional da Verdade expõe a busca labiríntica de Majer e Bernardo Kucinski por Ana Rosa e Wilson, desde 22 de abril de 1974. Como podemos ler no material recolhido, os familiares buscaram notícias e apelaram sem sucesso nos últimos quarenta anos para autoridades estrangeiras e nacionais. A postura do regime foi sempre negar a prisão e de alguma maneira vincular os desaparecidos, como subversivos. Também Bernardo Kucinski foi fichado por suas posições e pelo “incômodo” que vinha causando à imagem do governo ditatorial. Posteriormente, já na redemocratização, a Marinha divulgou um relatório acusando Ana Rosa de ter sido vítima do serviço secreto estadunidense em resposta aos trabalhos que ela supostamente realizaria para o governo israelense. Mais uma mentira, que como escreveu na época Bernardo Kucinski, visava mais uma vez impedir que se soubesse a verdade e negavam a memória de que ela lutara contra a ditadura militar e por isso foi detida, tortura, assassinada e desaparecida.
Resumo
O artigo propõe uma análise da tematização da tragédia das crianças sequestradas pelo regime militar brasileiro no romance Júlia. Nos campos conflagrados do Senhor, de Bernardo Kucinski (2020). Constatando primeiro a dimensão do silenciamento que envolve este trauma no Brasil de hoje (Reina), o artigo passa a reflexionar sobre seu escasso tratamento literário (Figueiredo; Gill da Cruz), para propor uma análise das figuras dos “desaparecidos vivos” (Basile) no romance e da complexidade com a qual Kucinski traz à tona o problema de uma violência transgeracional com base na filiação feminina fraturada, e a possibilidade de uma recomposição identitária pela via materna.